
Cuidar e o meu Futuro

Por trás da paisagem, há sempre muito, muito mais
domingo, 10 de março de 2013
A Natureza do Ser Humano - Nascida ou aprendida?

quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Fé e Ateísmo – Conceitos compatíveis?
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Viver e deixar viver - Uma opção ou uma obrigação?

quarta-feira, 27 de abril de 2011
Individualmente insatisfeitos ou colectivamente felizes?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011
AS ESCOLHAS – RACIONALIDADE OU ILUSÃO?
Gustave Flaubert, excerto de Madame Bovary
Estou agora a ler Madame Bovary de Flaubert. Ainda no começo, o livro já mostra pontos de bastante interesse para discussão e aquele que aqui gostaria de comentar é o período inicial do casamento dos Bovary. Além do homem iludido com a própria vida e que desconhece em absoluto a esposa que escolheu, temos a esposa: sonhadora e que vive com a mente envolvida em sonhos e com uma assombrosa capacidade para construir ilusões sem qualquer fundamento experiencial. Ela cria vidas perigosamente hipotéticas que a fazem, num limite da sanidade, sentir-se infeliz com a própria vida e a esperar, sentada – claro - que um impulso - do nada - traga a mudança para a sua vida.
É a mente desta esposa que gostaria de trazer a esta discussão – monólogo, para ser mais exacta. Fala-se aqui do sonho em si, associado às frustrações e às metas que definimos para a nossa vida e da espera indolente de que o que quer que queiramos nos venha para às mãos sem qualquer esforço.
Quanto à construção de sonhos, quero lembrar que temos tendência, enquanto indivíduos da sociedade ocidental – vetada ao progresso -, de reger a nossa vida de acordo com objectivos. Pautamos todas as nossas decisões pelos projectos a que aderimos ou que desenvolvemos. Inconscientemente acreditamos na ideia de que apenas quando produzimos e apresentamos resultados somos úteis. Chegamos, inclusivamente, a considerar quem não produz, um preguiçoso, um parasita.
Pois bem, está clara uma tendência da humanidade ocidental – em assustador processo de globalização – de se tornar escrava dos seus próprios projectos, a uma constatação dolorosa e inevitável de que “AINDA não sou feliz”. Parece-me, então, que estão assim lançadas as bases para a frustração, quer tenhamos projectos pragamáticos – trabalhar, ter filhos, casar, etc. – quer vivamos de ilusões.
Analisemos os projectos pragmáticos, uma cadeia perpétua de objectivos a atingir, um atrás do outro, sendo que atingir um não implica a tão ansiada felicidade, mas sim o começo de uma nova pulsão para atingir o objectivo seguinte, até que a morte nos detenha. Estamos sempre a ansiar, a querer mais e, no meio desta escalada, esquecemo-nos do que é realmente importante: a viagem, porque, no final de contas, é essa a nossa vida. Não vivemos apenas quando atingimos os objectivos – esses são pontos altos – vivemos todos os segundos das nossas vidas.
Não quero aqui negar a importância de um projecto de vida próprio, desenvolvido por cada um de nós. O que aqui defendo é a manutenção de uma perspectiva global de si durante o desenvolvimento deste projecto, pois ao depositarmos toda a nossa expectativa no cumprimento de uma meta, perdemos a consciência do que realmente somos. Se segmentarmos a nossa vida nos objectivos que atingimos, perdemos a noção do todo e, pelo caminho, perdemos a nossa própria identidade. Afinal, quem somos não se define pelos objectivos que atingimos, mas sim pela forma e pelo empenho que empregámos. Se os fins não justificam os meios, serão então, os meios a parte principal de um projecto e, por conseguinte, veiculantes do cunho pessoal que cada um dá à sua vida. O que é importante não é sabermos o que fizémos, mas sim como e porque o fizémos.
Isto trás-me de volta ao tema original, a mente de Ema Bovary, a esposa, e ao conceito de ilusão. Considerando tudo o que aqui foi escrito, compreende-se a relação entre a construção consciente de um projecto de vida e um auto-conceito realista. Quer isto dizer que devemos considerar as nossas capacidades, os nossos limites e nosso contexto na construção destes projectos. É esta a diferença entre um projecto realista e uma ilusão. Sendo que, nesta lógica, uma pessoa iludida com os objectivos que pode atingir, é uma pessoa alienada, que desconhece o mundo em que vive e, pior, desconhece-se a si mesma. Erasmo[1] já o escreveu, a felicidade consiste em querer ser o que se é. Ou seja, é feliz aquele cuja vida é o que sempre pretendeu, aquele que é realista nas suas pretensões.
Em momento algum coloco em dúvida o facto de ser a insatisfação perpetuamente renovada o motor do progresso humano. O que me pergunto, é se será realmente este o caminho para a realização humana. Se a nossa vida é uma escada de objectivos – muitas vezes ditados pela sociedade em que vivemos – não seremos mais do que peças que trabalham para um objectivo comum que nenhum de nós sabe realmente identificar?
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
GREVE - Inconformistas ou conformistas mascarados?
Na greve de hoje pararam as prinicpais empresas públicas, ou seja, pararam as pessoas cuja adesão à greve implica apenas não ganharem o dia de trabalho. O que estas pessoas se esquecem é que aquelas pessoas que lhes pagam os salários - os funcionários das empresas privadas - não têm condições sociais, finaceiras e/ou, inclusivamente, laborais para aderirem à greve.
Foram estas pessoas as principais prejudicadas, foram estas pessoas que chegaram tarde ao local de trabalho - porque tiveram mesmo de chegar! - porque os sindicatos decidiram protestar contra uma decisão que é agora inevitável.
estejamos cientes dos motivos que conduziram a esta greve: a população revolta-se contra os cortes que o governo e a Assembleia da Répública planearam para os subsídios, salários da função pública, a diminuição da comparticipação na medicação - já implementada - a dotação insuficiente de muitos serviços públicos, o congelamento da progressão dos salários... Bem, pelo menos são estes os motivos alegados pelo Sindicato dos Enfermeiros.
Agora vejamos, além de todos nós sabermos de cor o que aqui foi escrito e de, arduamente, digladiarmos os nossos ferozes argumentos nas conversas de café, também sabemos - quem disser o contrário alienou-se da realidade - que as decisões tomadas foram impostas, perdão, propostas, pela UE! Qualquer partido no governo e qualquer pessoa na presidência seria obrigado a proceder de maneira semelhante.
Esquecemo-nos que a nossa situação actual é o resultado de décadas de governação incoerente e "talvez" irresponsável. Mas também, não adianta casar a culpa com a UE, "talvez" a nossa entrada para a então CEE tenha sido apenas um respirar de alívio antes da inevitável catástrofe. Sejamos francos, antes da entrada de Portugal para a CEE, os gestores eram - e são - absolutamente incapazes de gerir de forma sustentável erário público. A situação pouco mudou, as gerações anteriores cometeram erros, foram incipentes e as gerações actuais não tomaram medidas que revertessem o quadro, dormindo à sombra da bananeira - leia-se fundos europeus.
Ora, porque estaremos nós a protestar? Não sei! Realmente não sei. Aliás, não sei se estaremos a protestar ou a encobrir sob a máscara da revolta a nossa vontade de gozarmos um dia de férias, "sendo muito proactivos no interesse da cidadânia", causando prejuízos ao estado (NÓS!!!) no valor de milhões de euros.
Mas sejamos ingénuos, creiamos que temos realmente motivos para protestar. O que fazemos?! Ordeiramente faltamos ao trabalho, em alguns casos, nem asseguramos serviços mínimos, e fazemos pacíficos piquetes de greve. Perdoem-me a linguagem, mas que raio de impacto é que isto tem? Aquilo que eu disse! Atrapalhar a vida do probre coitado que não pode faltar ao trabalho - perdão, fazer greve.
Olhemos para os exemplos da França, Grécia e Irlanda, a população revoltou-se... a sério. Partiu tudo!, Ameaçou a segurança pública. Ainda que de leve, fez o governo penas duas vezes antes de tomar qualquer decisão.
O que conseguimos nós? Perdas de milhões de euros que não me parecem que sejam motivo de insónia para o nossos decisores políticos e financeiros.
Coloquemos as mãos nas nossas consciências, valeu a pena esta greve inútil? Não estaremos a tentar esconder o facto de seros borregos alienados que só se lembram de ser cidadãos no verdadeiro sentido da palavra - aquele que implica direitos e deveres - quando nos pisam os calos? Onde estão os deveres? Terão ficado no sofá ao lado do PC, da Play Station e da TV que nos fazem "tão felizes"?... ACORDEMOS