Por trás da paisagem, há sempre muito, muito mais

domingo, 10 de março de 2013

A Natureza do Ser Humano - Nascida ou aprendida?


 “(…) a incredulidade. Assim se defendia o ser humano contra tudo aquilo que mostrava as indescritíveis crueldades a que podia chegar incitado pela ganância e pelos seus maus instintos num mundo sem lei.”
Mario Vargas Llosa, excerto d’O Sonho do Celta

Por vezes há estranhas conjugações de acontecimentos nas nossas vidas. Numa aula do curso de Acupuntura, discutíamos com o professor a possibilidade de os Seres Humanos nascerem intrinsecamente maus, ou bons.
Lembrando-me da minha recente leitura de O Sonho do Celta, de Vargas Llosa, obriguei-me a reflectir sobre esta interrogação. São brutais as atrocidades descritas neste romance que foram levadas a cabo por seres humanos no Congo e na Amazónia, e todas elas se repetiram e repetem em toda a história da humanidade. Há portanto, necessidade de compreender este fenómeno e de que forma se relaciona com a maldade e o respeito pelo próximo. Fiquei com a impressão, ao ler o livro de Llosa, que há um peso considerável no “sistema”, nos comportamentos preexistentes. Isto é evidente no discurso das próprias personagens, que assim justificam os seus actos, quando confrontadas com eles. No entanto, mesmo na barbaridade do colonialismo, há Seres Humanos que se mantêm imunes ao contágio do ambiente tóxico e perverso que os rodeia. Ora, esta disparidade do efeito do meio na personalidade do indivíduo faz-nos crer que não são o sistema ou o meio os principais responsáveis pelos nossos actos, embora teimemos em desresponsabilizar-nos com desculpa titubeantes como “sempre foi assim”.
Independentemente do indivíduo nascer “mau” ou fazer-se “mau”, a maldade é determinada pela falta de empatia pelo próximo e pelo desrespeito das mais elementares normas de conduta social (que se fundam no respeito pelo próximo). Correndo o risco de avançar com um julgamento simplista, poder-se-ia dizer que um Ser Humano maltrata outro por não ser capaz de se identificar com ele (esta justificação é transversal a toda a condição de escravatura de um Ser Humano – o escravo é visto como Ser Humano Inferior), por prazer, por aprendizagem (filhos de pais que perpetram violência doméstica tem uma probabilidade significativa de repetir o padrão comportamental do pai ou mãe), ou por vingança. Ora, onde se enquadra o livre arbítrio?
Continuando esta reflexão e antes de tentar responder a esta questão, não poderia deixar de ser abordado o papel da educação nos primeiros anos de vida de um indivíduo. Os três primeiros anos de vida são primordiais na definição das principais linhas da personalidade de um Ser Humano. A relação da criança com as figuras parentais e, mais tarde, com o grupo familiar alargado e os primeiros amigos influenciará indelevelmente o padrão de comportamento do adulto. Mas há uma ressalva que deve ser feita, este processo não tem um produto final, independentemente da importância destes primeiros anos de vida, o indivíduo está condenado a uma perpétua mudança de mentalidade e comportamento que definirão a sua identidade ao longo da vida.
Suponhamos que uma criança nasce “boa”, que no seu genoma carrega a herança do respeito e da empatia. Como será a sua evolução quando confrontada com um ambiente tóxico?
Dickens é eloquente na demonstração do seu raciocínio sobre cidades tóxicas que criam cidadãos perversos. Em Dombey and Son, o autor escreve que a contaminação moral associada à contaminação industrial (sentido não só literal, mas também associado aos valores da Revolução Industrial) pervertem a criança e criam “infância sem inocência, juventude sem modéstia, maturidade que é apenas madura na culpa e no sofrimento”. Com estas palavras, Dickens assume a atitude fatalista de que o meio influencia irremediavelmente a identidade do indivíduo. Ora, isto poderia levar-nos ao extremo de acreditar que filho de ladrão, ladrão será, sem excepções.
Pois eu ponho seriamente em dúvida este determinismo associado ao berço. É aqui que entra o livre arbítrio. Dotado de intuição e raciocínio, o Ser Humano toma decisões. Apesar do conjunto de valores que carrega consigo desde a infância, e também por causa dele, o Ser Humano poderá sempre analisar opções antes de tomar decisão e, mais tarde, reflectir sobre a consequência dos seus actos. O Ser Humano, teoricamente, pode tender para a melhoria constante, desde que assim o deseje, desde que decida fazer melhor a cada dia, respeitar o próximo a cada dia.
Porém, não é possível esquecer que o genocídio, a escravatura, a discriminação, o crime e outras perversões afins existem. Há Seres Humanos que as defendem e praticam. Porquê? Nasceram maus ou escolheram agir assim? Se é escolha, quando se começou a tomar decisões com estas consequências nefastas? E porquê?
Não querendo cometer a ousadia de responder a esta pergunta, parece-me óbvio que cada Ser Humano agirá de forma única perante circunstâncias semelhantes e que em situações limite, tais como a subsistência em condições infra-humanas determinarão o desenvolvimento de comportamentos geralmente tidos como “inadequados”.
Independentemente da resposta a estas perguntas, o Ser Humano criou o Mundo onde coexistem a virtude e a maldade nefasta, a fraternidade e o ódio, o que significa que “ambos os lados da força” fazem parte de cada um de nós, ou pelo menos da humanidade como um todo. Além disto, o mundo social e moral de que tão criticamente se fala não deixa de ser uma criação humana. É criado por nós, transformado por nós e, por isso, assemelha-se a nós.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Fé e Ateísmo – Conceitos compatíveis?


“Enquanto existir, por efeitos das leis e dos costumes, uma condenação social, que produza infernos artificiais no seio da civilização, e desvirtue com uma fatalidade humana o destino, que é inteiramente divinal (…), enquanto houver na terra ignorância e miséria, não serão os livros como este, de certo, inúteis.”
Victor Hugo, excerto da nota introdutória d’Os Miseráveis

    Será o ateísmo uma religião? Pergunto-me tal coisa porque comparo a forma de pensar de um absolutamente céptico ateu com a de um ferveroso crente de uma religião. Pensando no que o ateísmo representa, a negação veemente e proactiva da inexistência de fundamentos para a religião e de qualquer poder que ultrapasse, nas palavras de Shakespeare, aquilo que é sonhado pela filosofia humana; e naquilo que a religião representa, a crença conjunta, normalmente veemente, e proactiva na existência de um poder superior, sublimado; tornam-se claras as afinidades entre estes dois conceitos.
     São conceitos diferentes, é certo, mas com objectivos e normas de conduta semelhantes: Veja-se:  ambas têm uma crença (na divindade ou na sua inexistência) e ambas esforçam-se por fazê-la chegar aos outros pelo uso da palavra. Por certo, ambas as posições têm comprovados benefícios para as pessoas que as defendem, mas também têm a prepotência de acreditarem que o correcto a fazer é convencer os outros da correcção da sua própria escolha de vida e de pensamento.
     No entanto, o ateísmo desperta em mim um sentimento de revolta que não existe quando analiso outras religiões. Quando penso na retórica inflamada de um ateu perante um crente seguro das suas próprias ideias, lembro-me de uma cena marcante do filme Green Mile.
      Nesta cena, a personagem interpretada por Tom Hanks, guarda prisional, assegura a um condenado à morte (papel desempenhado por Eduard Delacroix), a poucas horas da sua execução, que o rato que tão carinhosamente cuidou durante o seu encarceramento irá para a Ratolândia, viverá feliz, conhecerá outros ratos, com quem viverá por muitos anos. Enquanto o guarda prisional descreve este idílio, o condenado – um homem cujos crimes, naquele momento,  já não importam – chora. Despede-se do rato como se este fosse (e provavelmente era-o) o seu único ente querido na terra.
    Mais tarde nesse dia, já sentado na cadeira eléctrica, um outro guarda prisional sem escrúpulos, interpretado por David Morse, diz-lhe, nos escassos momentos antes da execução!, que a Ratolândia não existe e que aquele rato é tão insignificante, pequeno e sem importância, como qualquer outro rato de esgoto. O prisioneiro chora novamente e, com estoicismo, recebe o massacre que se segue (quem viu a cena sabe do que falo).
    Quando o guarda prisional interpretado por Tom Hanks faz este condenado acreditar que existe realmente uma Ratolândia e que nela aquele rato terá um final feliz, restitui-lhe a réstia de fé, a réstia de esperança que um Homem pode ter nos momentos anteriores a uma morte com hora marcada. Quando a desesperança é tudo aquilo que se pode esperar, a fé é uma luz bruxuleante no final do túnel; uma crença inabalável, inverosímil e arrebatadora de que, no final, tudo ficará bem.
       Mas, no momento em que o outro guarda prisional, num cruel e desnecessário acto de despeito lhe nega esta última luz, aquele condenado descobre e vive o derradeiro medo do Ser Humano consciente: o não sermos nada, tal como nada é o que nos rodeia, e que ao nada voltaremos. Com palavras vazias de bondade e de respeito pelo sofrimento alheio, este guarda prisional abala, para este condenado, os seus alicerces da fé num mundo melhor.
        É isto que acredito que, num consideravelmente reduzido grau de crueldade!, um ateu faz quando tenta fazer ver ao crente que a sua forma de vida é errada e que aquilo em que sempre acreditou não existe. Dizer a um crente de uma religião monoteísta, por exemplo, que não existe Deus e fazê-lo crer nisso, é retirar-lhe as pedras basilares da sua moral, da sua conduta; é dizer-lhe que não haverá final feliz e isso, parece-me, é triste. É revelador de um auto-conceito, por parte do ateu, demasiado inflamado que o leva a CRER que está certo porque não existem provas em contrário (um argumento tão frágil, como simplesmente acreditar que existe Deus). É triste porque combate o direito de todo o Ser Humano de se iludir a si mesmo.
     Não defendo que a ilusão seja uma forma correcta ou saudável de viver a vida, no entanto, não existe nenhuma receita universal sobre como vivê-la e, por isso, cada um tem o direito de viver a vida ou sonhá-la como bem entender.
     Também não quero aqui defender que todos deveríamos ser crentes, se o pensasse, contrariaria o que acabo de escrever. Defendo sim o direito à fé, o direito de acreditar num mundo melhor, num “eu” melhor! Isto obriga-me a questionar o que é realmente a fé. Não será um sentimento de certeza absoluta, isento de um raciocínio lógico que infalivelmente o comprove? A fé, por definição e enquanto fenómeno vivenciado, não pode ser decomposta pela dúvida metódica.
      Se a fé não é científica, poderá um ateu ter fé? Acredito que a resposta se inclina perigosamente para o não. Nas palavras de Kant, a fé é “o modo moral de pensar da razão quando adere àquilo que é inacessível ao conhecimento teórico”. É, por isso, a crença naquilo que ainda não foi provado e, para todos os efeitos, uma necessidade de muitos Seres Humanos. O ateu, com a sua esmagadora necessidade de compreender e decompor todos fenómenos em seu redor, carece da sensibilidade necessária para simplesmente acreditar.
     É isto que me incomoda no ateísmo. É esta negação (ou chacota) de um direito individual. É este atentado perpetrado contra a sanidade mental das pessoas crentes, com quem os ferverosos ateus digladiam a sua retórica cheia de certezas verdadeiras apenas por hoje, tal como a história no-lo tem mostrado.
      É por isto também que escolhi o excerto da nota introdutória d’Os Miseráveis para cabeçalho. A fé, quer seja uma manifestação da sensibilidade do Ser Humano em apreender aquilo que não é palpável ou comprovável pela razão actual, quer seja uma necessidade latente associada à religião (e por isso, estigmatizada) ela é um direito! E, como direito, deveria estar a salvo da dissecação crua e cruel pelo raciocínio lógico.

Luiza Benatti

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Viver e deixar viver - Uma opção ou uma obrigação?


“Visto que não tenho contrato a prazo com a minha vida, afrouxo o freio quando chego numa descida mais perigosa. A vida do homem é uma estrada com subidas e descidas. Todas as pessoas sensatas avançam com um freio. Mas eu – é aqui que está o meu valor, patrão -, faz um bocado de tempo que eu joguei fora o meu freio, porque as carambolices não me metem medo
Excerto de Zorba o Grego de Nikos Kazantzakis

Há muito tempo que não escrevia neste espaço. Alegando a falta de tempo, o eufemismo para a falta de inspiração, deixei que o tempo corresse sem que me sentasse a reflectir[1] por escrito. Mas já chega, sinto falta de o fazer e hoje é um dia tão bom como qualquer outro.

O livro que hoje aqui me trás é Zorba, o Grego de Nikos Kazantzakis Falando da moralidade em estado puro, Zorba personifica o Homem angustiado com a vida, mas demasiado ocupado a vivê-la para se deixar abater por medos ou dúvidas.

Há uma passagem que ilustra bem esta ideia: “Porque se ri, amigo? Mas como explicar-lhes? Eu rio bruscamente, no momento em que estendo a mão para ver se o fio de ferro é bom, penso em o que é o homem, porque veio à terra a para que serve… Para nada, acho eu. Tudo é a mesma coisa: se tenho ou não uma mulher, se sou honesto ou desonesto, se sou paxá ou carregador. Há somente uma diferença: se estou vivo ou estou morto.”

Pareceram-me estranhas estas palavras, diferentes da minha escala de tonalidades em que, por preconceito, classifico o bom e o mau. Zorba é (é-o, no presente, porque o relato da sua história, do seu pensamento, tornou-o num ícone da sociedade grega e da humanidade) um homem que sofreu, que foi feliz mas que, de alguma forma, conseguiu retirar importância de todas as experiências que viveu. Reconhece-lhes o papel formador da sua personalidade, da sua história de vida, no entanto, ao contrário de Epícuro e seus discípulos, Zorba não abdica do prazer e do sofrimento como experiências fundamentais da humanidade. Não pensado a morte com a luz de um sentimento saudosista, de perda absoluta, Zorba sabe que estar vivo é uma oportunidade e vive a vida como o momento o exige e como a sua consciência ordena.

É esta forma de ver a vida que impede Zorba de se arrepender. Os remorsos existem, pois em vários momentos da narrativa sente-se triste pelo que fez, no entanto os acontecimentos que representam um peso na sua história de vida são inseridos em determinados estados de espírito e assim justificados por ele, sem que percam importância na construção do seu carácter, mas também, sem que representem um peso demolidor, incapacitante da continuidade da sua vida.

Exactamente porque a vida é uma oportunidade, a morte representa o seu fim e é tão natural como qualquer outro fenómeno neste planeta. Nascimento e morte são apenas dois pontos, nem mais nem menos do que isso. São importantes? Talvez!, mas apenas para nós próprios e para aqueles que amamos. No entanto, esta tomada de consciência da vulgaridade da morte não é, em momento algum, um salvo-conduto para a indiferença para com o outro ou para a maldade contra si próprio ou contra outrem. O próprio Zorba vive de acordo com a sua consciência, de acordo com o seu conjunto de valores que, acima de tudo, decretam que não deverá prejudicar os outros.

Numa outra interpretação do velho adágio de que a nossa liberdade termina onde começa a dos outros, Zorba é proactivo na protecção dos “temporariamente menos afortunados”. Não conseguindo ser feliz sozinha, a personagem esforça-se por alegrar os outros, muitas vezes com prejuízo da sua própria liberdade, haja visto o inesperado casamento com a sua Bubulina. Zorba é um indivíduo, reconhece que não depende dos outros para se manter vivo, mas não consegue ser completo sem o Patrão – alter ego do autor – ou convivendo com a infelicidade alheia.

Zorba é simples, é primitivo (no bom sentido, aquele que caracteriza quem é alheio à razão e à sua habitual companheira, a angústia depressiva), é o Ser Humano em estado puro. Perto do animal, sem segundas intenções, puro e sábio. Zorba não nega que por vezes é maldoso, que erra, que já agiu em proveito próprio em detrimento do dos outros, mas aceita que a pessoa que é agora, é a pessoa que aprendeu com os seus erros, é a pessoa que se sente melhor do que o seu Eu anterior, mas nunca melhor do que qualquer outro Ser Humano.

Insisto ainda no primitivo, porque tento justificar-me. Este é o adjectivo que caracteriza o indivíduo que não cede às convenções sociais e à lógica aprendida. Pensa por si e expressa o que pensa sem medo de críticas. Respeitando a liberdade dos outros, é absolutamente fiel ao seu livre arbítrio. Zorba é o seu expoente máximo.

A dança é, assim, a expressão deste pensamento. Se está triste, Zorba dança. Se está feliz, Zorba dança. Se não se consegue expressar por palavras, Zorba dança. Pela expressão não-verbal, pelo movimento do corpo como um todo, Zorba comunica. Sem subterfúgios, sem correntes, sem ressentimento, Zorba utiliza o tipo de comunicação mais primitivo (novamente este adjectivo tão complexo): o não-verbal. É esta a verdadeira comunicação, só pode sê-lo. Haverá qualquer língua que seja compreendida por todos os seres humanos, como o é a comunicação não-verbal? Não me refiro apenas à língua gestual (até certo ponto, muito intuitiva, mas nem sempre de fácil compreensão e expressão), mas ao movimento rítmico, ao movimento inspirado e poético. Falo da utilização das expressões faciais, dos pés, das mãos, do toque, de tudo aquilo de que somos dotados, antes mesmo de aprendermos a primeira palavra. O Homem assim expressa-se pelo que é, e compreende utilizando todos os seus sentidos.




[1] Reconheço a existência do acordo ortográfico, mas concedo-me a utilizá-lo quando também for ractificado pelos outros países lusófonos.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Individualmente insatisfeitos ou colectivamente felizes?

“Agrada-me também a seguinte definição: o homem feliz é aquele para quem nada é bom ou mau à margem de uma alma boa ou má; esse homem pratica aquilo que é honesto e contenta-se com a virtude”
Séneca, Da vida Feliz

      O mundo está decididamente diferente. Não o digo fazendo comparações dentro dos meus 20 anos de vida, digo-o porque acredito que no espaço de dois séculos a humanidade mudou muito.
     Em tempos, conversando com colegas de trabalho, surgiu o velho adágio “se todos gostassemos do amarelo, o que seria do vermelho?”, pois poucas frases definem tão bem a sociedade individualista e de consumo em que vivemos. Quer tomemos como exemplo a organização do orçamento familiar ou a própria estrutura de uma família, sempre podemos encontrar em cada sujeito uma força individual dissonante do grupo com quem vive; sempre podemos encontrar alguém que acredita ter todo o direito de seguir o amarelo – leia-se o seu próprio conjunto de valores e gostos – ainda que dissonantes dos do resto do seu grupo de pertença.
    Alberoni e Veca (2000) ajudam-me a clarificar este ponto. Em O Altruísmo e a Moral, os autores defendem que existe uma proliferação de crenças individuais, não existindo um padrão de crenças ou, de uma forma metafórica, um pilar moral. Na verdade, na sociedade ocidental – e refiro-me a ela porque é a minha e talvez a que eu compreenda melhor – cada um tem a sua própria moral apesar de viver colectivamente. Cada Ser Humano define por si próprio o certo e o errado, apesar da convivência em sociedade implicar um acordo comum nas regras de conduta.
    Sintomático desta falta de princípios globais – princípios e não leis! – é o crescente desrespeito que as gerações mais novas têm pelas mais velhas. Se pensarmos que o livre arbítrio degenerou na escolha arbitrária do eixo de valores de cada um, poderemos observar uma tendência das gerações mais novas de acreditarem que só as suas crenças são actuais e válidas. Mas retomarei este assunto mais adiante.
Uma paleta de princípios morais tão variada como esta obriga a uma atitude de tolerância generalizada, sendo que ser excessivamente tolerante significa aceitar que tudo pode estar certo. Se assim for, existirão atitudes erradas? Se sim, quem, ou o que, as define? São as crenças comuns que impõem limites a TODOS os membros de uma sociedade. Se elas não existirem, quais são os pontos de referência de cada elemento de uma sociedade? Em última análise, como se define a identidade de cada elemento se não existe um conjunto de crenças que delimite e descreva as características de um grupo? Por conseguinte, numa sociedade progressivamente anónima – por que cada um tem um conjunto de valores que mais ninguém reconhece – quais são os referenciais de pertença?
    Se está cada Ser Humano por si e pelo seu bem-estar, onde estão os grandes objectivos da humanidade? Quem olhará além do seu umbigo para lhes dedicar a atenção devida? Atenção esta ditada pela solidariedade e altruísmo que a condição humana exige.
     Por vezes penso que um formigueiro será mais eficiente enquanto sociedade que toda a sociedade humana ocidental. Não lutam as formigas de um mesmo formigueiro pela sobrevivência de todo o grupo? Não são elas exemplo da dedicação absoluta, do auto-sacrifício e da abnegação de que nós nos proclamamos únicos bastiões?
    A organização das nossas famílias mostra-nos isto. Tendencialmente nucleares, as novas gerações tendem a tomar como certa a saída de casa dos pais, um desejo compreensível dentro de uma perspectiva demasiado tolerante. Afinal, na casa dos pais fica um casal a envelhecer e que, a certa altura, irá precisar de cuidados que os filhos estarão demasiado ocupados ou distantes para prestarem. A solução passa, infeliz e maioritariamente, pela antecâmara da morte – apodo que alguns idosos dão aos lares que, na verdade, não passam de salas de espera colectivas pela próxima morte. Deixou de existir o patriarca ou a matrona, já não se pedem conselhos aos mais velhos. Parece que a sabedoria, agora, tem prazo de validade.
    Abrangendo ainda mais esta observação, já não se contratam para as empresas pessoas com mais de 50 anos – são velhas – e a experiência perde-se, preterida a um estilo de organização que só tem em consideração o lucro e o rendimento de um conjunto de trabalhadores – mais uma vez uma massa anónima de seres humanos.
    Pensando bem, talvez seja este o paradoxo da nossa sociedade: cada Ser Humano tem uma forma de pensar própria e acha-se especial por isso, no entanto, para a sociedade que o criou e que ele próprio mantém, ele não é mais do que uma peça numa engrenagem gigante. Pior, a engrenagem que ele se esforça por acompanhar não lhe atribui maior importância do que à sua capacidade de trabalho e é, ela própria, destituída de sentido. Na verdade, criámos uma sociedade cada vez menos sustentável e que, analisando com cuidado, não serve para coisa alguma. Qual é o objectivo das grandes empresas e empreendimentos que não o lucro? E para que serve o lucro senão para satisfazer as necessidades e o bem-estar de uns poucos infelizes? O que ganha o trabalhador senão o seu ordenado para gastar a pagar dívidas e a manter-se vivo para continuar a trabalhar para continuar a pagar as contas? Onde está o sentido da vida de cada Ser Humano? Qual é o papel de CADA Ser Humano?
     Acredito que numa verdadeira sociedade todos os papéis estão definidos e cada Ser Humano é realmente especial porque a sua acção na comunidade é importante e ele não deverá querer desenvolver outro papel que não o seu! Só assim, creio, cada um sabe exactamente quem é, não só porque sabe o que é esperado dele, mas também porque é reconhecido por isso! Tal não acontece na nossa sociedade, porque não existem papéis verdadeiramente definidos, existem demasiadas áreas cinzentas que dificultam, ou até mesmo impossibilitam, a definião da identidade de cada um. Se eu não souber quem sou, como posso saber o que esperam de mim? Como defino os limites da minha acção? Como sei o que está certa ou errada?
     Por tudo isto, parece-me que o mais importante nunca poderá ser o bem individual, mas sim o bem maior para todos, porque se todos nos importarmos com todos, não existirá negligência, não existirá abandono, não existirá indiferença. Se o problema do outro for o meu problema, a minha vida terá um significado maior do que a sobrevivência aos outros. Afinal e, regressando ao adágio inicial e utilizando-o como metáfora, se todos gostarmos do amarelo, seremos mais fortes. Partilharemos princípios, crenças e objectivos, mas se cada um tiver uma cor preferida, uma crença e um objectivo próprio, estaremos a remar contra a maré sozinhos até ficarmos sem forças para continuar. Talvez o problema da nossa sociedade seja o seu tamanho descomunal, mas cada um de nós pode fazer a diferença e esforçar-se pelo outro, para compreendê-lo, para ajudá-lo, ainda que isso comprometa o nosso bem-estar. Só assim, acredito, valerá a pena viver!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

AS ESCOLHAS – RACIONALIDADE OU ILUSÃO?

“No fundo da alma, contudo, ela esperava um acontecimento. Como os marinheiros em perigo, lançava olhos desesperados sobre a solisão da sua vida, procurando ao longe qualquer vela branca nas brumas do horizonte”

Gustave Flaubert, excerto de Madame Bovary

Estou agora a ler Madame Bovary de Flaubert. Ainda no começo, o livro já mostra pontos de bastante interesse para discussão e aquele que aqui gostaria de comentar é o período inicial do casamento dos Bovary. Além do homem iludido com a própria vida e que desconhece em absoluto a esposa que escolheu, temos a esposa: sonhadora e que vive com a mente envolvida em sonhos e com uma assombrosa capacidade para construir ilusões sem qualquer fundamento experiencial. Ela cria vidas perigosamente hipotéticas que a fazem, num limite da sanidade, sentir-se infeliz com a própria vida e a esperar, sentada – claro - que um impulso - do nada - traga a mudança para a sua vida.

É a mente desta esposa que gostaria de trazer a esta discussão – monólogo, para ser mais exacta. Fala-se aqui do sonho em si, associado às frustrações e às metas que definimos para a nossa vida e da espera indolente de que o que quer que queiramos nos venha para às mãos sem qualquer esforço.

Quanto à construção de sonhos, quero lembrar que temos tendência, enquanto indivíduos da sociedade ocidental – vetada ao progresso -, de reger a nossa vida de acordo com objectivos. Pautamos todas as nossas decisões pelos projectos a que aderimos ou que desenvolvemos. Inconscientemente acreditamos na ideia de que apenas quando produzimos e apresentamos resultados somos úteis. Chegamos, inclusivamente, a considerar quem não produz, um preguiçoso, um parasita.

Pois bem, está clara uma tendência da humanidade ocidental – em assustador processo de globalização – de se tornar escrava dos seus próprios projectos, a uma constatação dolorosa e inevitável de que “AINDA não sou feliz”. Parece-me, então, que estão assim lançadas as bases para a frustração, quer tenhamos projectos pragamáticos – trabalhar, ter filhos, casar, etc. – quer vivamos de ilusões.

Analisemos os projectos pragmáticos, uma cadeia perpétua de objectivos a atingir, um atrás do outro, sendo que atingir um não implica a tão ansiada felicidade, mas sim o começo de uma nova pulsão para atingir o objectivo seguinte, até que a morte nos detenha. Estamos sempre a ansiar, a querer mais e, no meio desta escalada, esquecemo-nos do que é realmente importante: a viagem, porque, no final de contas, é essa a nossa vida. Não vivemos apenas quando atingimos os objectivos – esses são pontos altos – vivemos todos os segundos das nossas vidas.

Não quero aqui negar a importância de um projecto de vida próprio, desenvolvido por cada um de nós. O que aqui defendo é a manutenção de uma perspectiva global de si durante o desenvolvimento deste projecto, pois ao depositarmos toda a nossa expectativa no cumprimento de uma meta, perdemos a consciência do que realmente somos. Se segmentarmos a nossa vida nos objectivos que atingimos, perdemos a noção do todo e, pelo caminho, perdemos a nossa própria identidade. Afinal, quem somos não se define pelos objectivos que atingimos, mas sim pela forma e pelo empenho que empregámos. Se os fins não justificam os meios, serão então, os meios a parte principal de um projecto e, por conseguinte, veiculantes do cunho pessoal que cada um dá à sua vida. O que é importante não é sabermos o que fizémos, mas sim como e porque o fizémos.

Isto trás-me de volta ao tema original, a mente de Ema Bovary, a esposa, e ao conceito de ilusão. Considerando tudo o que aqui foi escrito, compreende-se a relação entre a construção consciente de um projecto de vida e um auto-conceito realista. Quer isto dizer que devemos considerar as nossas capacidades, os nossos limites e nosso contexto na construção destes projectos. É esta a diferença entre um projecto realista e uma ilusão. Sendo que, nesta lógica, uma pessoa iludida com os objectivos que pode atingir, é uma pessoa alienada, que desconhece o mundo em que vive e, pior, desconhece-se a si mesma. Erasmo[1] já o escreveu, a felicidade consiste em querer ser o que se é. Ou seja, é feliz aquele cuja vida é o que sempre pretendeu, aquele que é realista nas suas pretensões.

Em momento algum coloco em dúvida o facto de ser a insatisfação perpetuamente renovada o motor do progresso humano. O que me pergunto, é se será realmente este o caminho para a realização humana. Se a nossa vida é uma escada de objectivos – muitas vezes ditados pela sociedade em que vivemos – não seremos mais do que peças que trabalham para um objectivo comum que nenhum de nós sabe realmente identificar?



[1] Elogio da Loucura

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

GREVE - Inconformistas ou conformistas mascarados?

É inadmissível a greve que se realizou hoje. Não nego o direito da população à greve e à liberdade de expressão - sejamos livres para apontar o que nos incomoda, mas não sejamos livres para prejudicar a vida do próximo, sem que disso venha um benefício significativo.
Na greve de hoje pararam as prinicpais empresas públicas, ou seja, pararam as pessoas cuja adesão à greve implica apenas não ganharem o dia de trabalho. O que estas pessoas se esquecem é que aquelas pessoas que lhes pagam os salários - os funcionários das empresas privadas - não têm condições sociais, finaceiras e/ou, inclusivamente, laborais para aderirem à greve.
Foram estas pessoas as principais prejudicadas, foram estas pessoas que chegaram tarde ao local de trabalho - porque tiveram mesmo de chegar! - porque os sindicatos decidiram protestar contra uma decisão que é agora inevitável.
estejamos cientes dos motivos que conduziram a esta greve: a população revolta-se contra os cortes que o governo e a Assembleia da Répública planearam para os subsídios, salários da função pública, a diminuição da comparticipação na medicação - já implementada - a dotação insuficiente de muitos serviços públicos, o congelamento da progressão dos salários... Bem, pelo menos são estes os motivos alegados pelo Sindicato dos Enfermeiros.
Agora vejamos, além de todos nós sabermos de cor o que aqui foi escrito e de, arduamente, digladiarmos os nossos ferozes argumentos nas conversas de café, também sabemos - quem disser o contrário alienou-se da realidade - que as decisões tomadas foram impostas, perdão, propostas, pela UE! Qualquer partido no governo e qualquer pessoa na presidência seria obrigado a proceder de maneira semelhante.
Esquecemo-nos que a nossa situação actual é o resultado de décadas de governação incoerente e "talvez" irresponsável. Mas também, não adianta casar a culpa com a UE, "talvez" a nossa entrada para a então CEE tenha sido apenas um respirar de alívio antes da inevitável catástrofe. Sejamos francos, antes da entrada de Portugal para a CEE, os gestores eram - e são - absolutamente incapazes de gerir de forma sustentável erário público. A situação pouco mudou, as gerações anteriores cometeram erros, foram incipentes e as gerações actuais não tomaram medidas que revertessem o quadro, dormindo à sombra da bananeira - leia-se fundos europeus.
Ora, porque estaremos nós a protestar? Não sei! Realmente não sei. Aliás, não sei se estaremos a protestar ou a encobrir sob a máscara da revolta a nossa vontade de gozarmos um dia de férias, "sendo muito proactivos no interesse da cidadânia", causando prejuízos ao estado (NÓS!!!) no valor de milhões de euros.
Mas sejamos ingénuos, creiamos que temos realmente motivos para protestar. O que fazemos?! Ordeiramente faltamos ao trabalho, em alguns casos, nem asseguramos serviços mínimos, e fazemos pacíficos piquetes de greve. Perdoem-me a linguagem, mas que raio de impacto é que isto tem? Aquilo que eu disse! Atrapalhar a vida do probre coitado que não pode faltar ao trabalho - perdão, fazer greve.
Olhemos para os exemplos da França, Grécia e Irlanda, a população revoltou-se... a sério. Partiu tudo!, Ameaçou a segurança pública. Ainda que de leve, fez o governo penas duas vezes antes de tomar qualquer decisão.
O que conseguimos nós? Perdas de milhões de euros que não me parecem que sejam motivo de insónia para o nossos decisores políticos e financeiros.
Coloquemos as mãos nas nossas consciências, valeu a pena esta greve inútil? Não estaremos a tentar esconder o facto de seros borregos alienados que só se lembram de ser cidadãos no verdadeiro sentido da palavra - aquele que implica direitos e deveres - quando nos pisam os calos? Onde estão os deveres? Terão ficado no sofá ao lado do PC, da Play Station e da TV que nos fazem "tão felizes"?... ACORDEMOS

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A utopia de Thomas More - Uma perspectiva de enfermagem

"a humanidade (...) consiste essencialmente em atenuar os males dos outros, aliviar seus sofrimentos e, com isso, dar mais alegria às suas vidas, ou seja, mais prazer"
Thomas Morus, excerto d'A Utopia

Há pouco tempo terminei a leitura deste livro e acredito que foi uma das minhas leituras mais interessantes nos últimos tempos. Thomas More descreve uma civilização bem diferente da sua contemporânea (a Inglaterra de Henrique VIII) e, mesmo assim, ainda bem diferente da nossa (o século XXI no mundo ocidental). Mas, ainda antes desta descrição, Rafael Hitlodeu, alter ego de Thomas Morus, procura identificar os problemas sociais e políticos (se é que se podem separar...) da Inglaterra do Século XVI, propondo-lhe algumas soluções. Por exemplo, este viajante critica as atitudes do estado em relação às punições por roubo ou assassínio que, à data do manuscrito, estavam em pé de igualdade - enforcamento para todo aquele que cometa um crime, quer seja por roubo, traição ou assassínio. Da mesma forma, Hitlodeu desaprova a lentidão da justiça que, sustentada em milhares de leis que muito poucos compreendem, perde tempo em julgar todos os casos e deliberar justamente sobre a inocência e culpa de todos os réus (quem de nós não se identifica com este facto? Quem de nós nega a lentidão da justiça portuguesa?). Contra esta situação, o viajante propõe a constituição da Utopia, composta por muito poucas leis que todos os cidadãos conhecem e compreendem. Esta alteração drástica na legislação inutilizaria, por exepmplo, a existência de advogados: se cada cidadão souber os pilares em que pode basear a sua defesa, não necessita de recorrer a um "entendido em leis" e pode, sozinho construir a sua defesa.
Continuando na obra, Hitlodeu defende um dos maiores princípios do socialismo e talvez, também, o segredo da vida em comunidade: a divisão equalitária de todos os bens pelos elementos da sociedade. Este raciocínio invalida a vassalagem de alguns justificada pela riqueza de outros, elimina a existência de classes sociais e, com elas, a inveja da posse (convenhamos, todas as guerras começam porque um tem uma coisa que o outro não tem... quer seja terra, petróleo, dinheiro, etc...).
Além disso, Hitlodeu descreve uma associação bastante interessante entre prazer, saúde e prevenção. A obra reza algures que "um sábio preferirá prevenir a doença a solicitar remédios; manter as dores afastadas a recorrer a calmantes; abster-se enfim de prazeres cujos malefícios teria de reparar". Apesar desta concepção ir de encontro com a Grande Saúde de Sfez, esta não procura garantir que estamos todos condenados a morrer saudáveis. Longe disso, procura antes estimular o cuidado de si próprio e a construção de um auto-conceito realista. Vejamos por outra perspectiva, às pessoas de quem gosto, a última coisa que desejaria seria magoá-las, ora, o mesmo se passa comigo, se eu gostar de mim, me tiver numa alta consideração, porque me magoaria? Porque desenvolveria actividades que eu sei que me prejudicam? Com isto não quero afirmar que devemos todos deixar de fumar (numa altura em que a dependência já está instalada, o objectivo não pode ser, à partida, deixar de fumar, mas sim, manter o prazer e o alívio que esta actividade proporciona sob pena de agravamento de outros problemas como por exemplo a ansiedade...) a intervenção tem que ser mais precoce e incidir sobre a própria estrutura da personalidade: as pessoas têm que aprender desde pequenas o que é o amor próprio, a importância de se estimarem. Acredito que o desenvolvimento desta atitude seria preventivo de muitos dos actuais problemas de saúde da sociedade ocidental e que têm a causa principal nos hábitos de vida das pessoas. Esta é uma das intervenções importantes do enfermeiro que trabalha com as crianças e com os educadores das crianças ao nível dos cuidados de saúde primários.
O raciocínio de Hitlodeu estende-se evoluindo do cuidado de si próprio para o cuidados dos outros, elogiando a atenção que o Homem deve prestar ao Homem. De certa forma, tal como More defendeu e tal como está descrito nas principais obras do socialismo, nós temos uma responsabilidade e um dever em relação aos outros, em relação àquelas pessoas que fazem de nós aquilo que somos pelo simples reconhecimento da nossa presença e dignidade. É porque nos importamos com o outro que cuidamos dele, que somos solidários, que recebemos ajuda dos outros. Analisando esta forma de conduta, encontramos os valores fundadores da profissão de enfermagem que se encarrega de cuidar do outro, de o ajudar a construir um sentido para as provações que tem de ultrapassar e, de certa forma, este é também o grande valor da humanidade, tal como conclui More.